segunda-feira, 10 de março de 2008

INTERROGAÇÕES DE UMA PROFESSORA,PROCURANDO COMPREENDER PORQUE NÃO FAZ PARTE DOS 100.000...




8 de Março de 2008. 100 000 professores manifestam-se em Lisboa contra as políticas educativas do governo, em especial contra o novo modelo de avaliação de desempenho. É a maior manifestação de que há memória da classe docente e uma das maiores após o 25 de Abril.

E eu não estou lá! E devia estar! Todo o meu percurso, a minha história pessoal, o que acredito de mim mesma, indicariam que era lá o meu lugar, ao lado das pessoas com quem, desde há 27 anos, partilho os quotidianos que dão, em grande parte, sentido à minha vida.

Então porque não fui? O que me leva a não estar em sintonia com o sentimento de indignação de tantos milhares de colegas que desfilam por aquilo que convictamente acreditam ser a defesa da sua dignidade de profissionais? Colegas de todas as escolas do país, mais novos e mais velhos, contratados e efectivos, reformados, das mais variadas opções ideológicas e políticas, com as mais diferentes formas de estar na vida e mesmo na escola....Colegas que conheço, respeito e admiro porque sei que só a sua dedicação tem permitido que as escolas funcionem e milhares de crianças e jovens aprendam. E isto apesar de todos os governos e ministros, secretários e subsecretários de estado, directores gerais e menos gerais, assessores e adjuntos, comissões e comités, e etc., etc, etc....

Então, porque é que eu não me sinto ofendida por esta avaliação? Porque é que não sinto que combatê-la é defender a escola pública, o 25 de Abril no ensino, a Liberdade na educação, uma escola de qualidade? Porque é que não consigo deixar de sentir que há aqui um tremendo equívoco, um enorme mal-entendido?

Parto de princípio que posso estar errada (devo estar errada, com certeza...): se 90 % dos meus colegas estão contra esta avaliação, é estatisticamente pouco provável que quem a defenda esteja certo.....Ou não são estas as regras da democracia?....

Procuro razões para este meu posicionamento tão matematicamente anormal: será que os anos me tornaram menos crítica e mais permeável à propaganda do poder, será que tenho um défice de consciência profissional que me torna insensível a ataques óbvios e escandalosos à dignidade da minha profissão, será que por limitações de inteligência não estou a perceber as implicações gravíssimas da implementação desta avaliação nas escolas ou será que me acomodei numa inércia descrente de quem já viveu grandes movimentos de massas que se esfumaram sem deixar rasto?

Nenhuma destas razões me satisfaz, não encontro evidências no meu comportamento habitual que confirmem qualquer destas hipóteses: faço os possíveis por me manter razoavelmente lúcida, o meu QI está absolutamente dentro da média, tenho consciência bastante do meu estatuto como profissional, conservo, aos 50 anos, uns saudáveis laivos de idealismo..... E, quanto a comodismo, é bem mais incómodo ter uma opinião diferente de 100 000.......

Então porquê? Porque não estou eu no Marquês de Pombal a lutar contra uma tão monstruosa indignidade que movimenta tantos milhares de colegas meus, oficiais do mesmo ofício?





Se eu até concordo que houve uma total inépcia e falta de senso político na condução deste processo: como é possível pensar que se podem mudar práticas de décadas em tão pouco tempo, sem criar condições que dêem confiança às pessoas na credibilidade e seriedade dos processos? Como é possível dirigentes políticos serem tão cegos que não avaliem o impacto de mudanças tão profundas em profissionais que vêm acumulando frustrações e desencanto há anos e anos? Como se pode pensar que se muda um sistema tão sensível legislando em catadupa, num terramoto de decretos e despachos que ameaça desmoronar de vez o edifício já tão frágil? Como é possível ignorar que, às inevitáveis dores que as mudanças causam, há que juntar a esperança de que vale a pena?

Mas, apesar de considerar tudo isto, eu não estou no Terreiro do Paço.....

Releio o famigerado decreto-lei mais uma vez - “ instrumentos de registo elaborados e aprovados pelo Conselho Pedagógico”; “ indicadores de medida previamente estabelecidos pela escola para o progresso dos resultados escolares”; “objectivos individuais fixados por acordo avaliado/avaliador”; “ o docente tem direito a que sejam garantidos os meios e condições necessários ao seu desempenho” e etc, etc, etc....

E então, finalmente, percebo porque não estou ao lado dos 100 000: muito simplesmente, porque confio neles......
Porque o Conselho Pedagógico, que irá elaborar/aprovar as fichas que vão ser utilizadas na minha avaliação, é constituído por colegas meus; porque os indicadores de medida de acordo com os quais deverei definir os resultados esperados dos meus alunos, aferidos pelos resultados médios da disciplina e da turma, são estabelecidos pelo Projecto Educativo da minha escola; porque o professor titular/coordenador de departamento, que irá formular comigo os objectivos, assistir às minhas aulas e aplicar as fichas na minha avaliação, é meu colega; porque o Director Executivo que irá avaliar outros aspectos do meu desempenho, também é professor e, muito provavelmente, professor da minha escola; porque até a Comissão de coordenação da avaliação, que intervirá se houver discordância na avaliação, é constituída por colegas do Pedagógico.

Como posso discordar de um modelo de avaliação que assenta no juízo dos meus pares, colegas com quem trabalho todos os dias, que partilham comigo as dificuldades e problemas de um mesmo contexto socio-educativo, que me conhecem, a quem devo necessariamente reconhecer a competência, por serem professores como eu, para comigo debaterem construtivamente práticas e orientações, e assim me ajudarem a melhorar o meu desempenho profissional?

Em quem vou confiar então para me avaliar? Numa entidade externa, vidé inspector, que aterra um dia na minha aula e, sem me conhecer de lado nenhum, avalia o meu trabalho de acordo com uma qualquer grelha, inventada por um teórico da educação, que resultou muito bem na Finlândia, e que o ministério aprovou para ser aplicada uniformemente de Bragança a Faro?
Ou então num exame de três ou quatro horas, já agora feito na universidade, onde um júri constituído por conceituadas personalidades, que nunca deram uma aula a meninos como os meus alunos, ou puseram os pés numa escola semelhante à minha, vai judiciosamente avaliar se sou uma boa professora?

Ou vai ficar tudo como está? Ninguém seriamente pode defender essa posição....Ou então os anos e anos que ouvi de recriminações e críticas na sala de professores pela tremenda injustiça de um sistema que não diferenciava níveis de desempenho, foram meras alucinações minhas.....





E agora? O que espero? Do Ministério espero que tenha o bom senso de perceber que não se impõem reformas a partir de um gabinete da 5 de Outubro, mas também que tenha a firmeza de não recuar, por razões de popularidade, numa avaliação que, em meu entender, tem virtualidades para melhorar o sistema, se para tal forem criadas as necessárias condições; dos Sindicatos espero que não tentem aproveitar com objectivos partidários aquilo que é a justificada indignação de uma classe profissional que merecia mais respeito do poder; dos meus colegas, espero que tenham a necessária serenidade e lucidez para discernirem o que está verdadeiramente em jogo e que saibam canalizar a enorme energia e espírito de luta que demonstraram para conquistar a verdadeira autonomia que pode transformar a Escola portuguesa.

E de mim? Ora, de mim espero ter tranquilidade para levar o ano escolar o melhor possível até ao fim e não me angustiar demasiado com o facto de pertencer ao 1% que não pede a demissão da Ministra da Educação..........
Professora Antónia Pereira

segunda-feira, 3 de março de 2008

OS ELEITOS E OS ALUNOS


















Foi sugerido para publicação pela coordenadora dos projectos europeus a seguinte notícia:

No âmbito do Projecto Europeu «If I Tell You About Myself I Feel I Exist» decorreu na ESGP um ciclo de Encontros Informais entre Eleitos e Alunos.
O objectivo principal foi proporcionar aos jovens um melhor conhecimento do funcionamento do sistema democrático e aproximar os jovens dos eleitos locais e dos deputados que nos representam na Assembleia da República. Dia 26 de Fevereiro iniciou-se o ciclo com a deslocação da Drª Filomena Araújo, vereadora da Câmara Municipal de Évora.
A Srª Vereadora foi recebida pelo Presidente do Conselho Executivo , Professor Ananias Quintano, e pela Presidente do Conselho Pedagógico, Professora Ana Agoas, que integram activamente este projecto. A apresentação e moderação foi feita pela professora Élia Mira, à qual se juntou a Professora Antónia Pereira ,que também integra a equipa dos projectos europeus. Durante 90 minutos a conversa com os alunos do 11º G, da área de Humanidades, e dos alunos do Curso Profissional de 12º ano, manteve-se muito animada. O encontro foi dinamizado por questões de natureza variada que os jovens colocaram e o tempo soube a pouco...Agradecemos a disponibilidade e amabilidade com que a Drª Filomena acedeu a este nosso desafio e a lição de democracia que nos proporcionou.


Dia 4 de Março, esteve presente ainda para o mesmo efeito, no Auditório da Escola o Presidente da Junta de Freguesia de S.Mamede, Professor Carlos Grácio.
Durante 90 minutos a conversa manteve-se muito animada e correu ao sabor das questões colocadas pelos alunos e pelo discurso do Professor Carlos Grácio que muito cativou o grupo. Esclareceu acerca das funções, organização e principais dificuldades com que se defronta uma Junta situada no Centro Histórico, as relações entre as diversas forças partidárias que integram o executivo da Junta e da Assembleia de Freguesia, bem como a relação entre a Junta e a Câmara Municipal .
Procurou ainda sensibilizar os jovens para a necessidade de uma intervenção cívica empenhada, em que todos possam dar a sua contribuição para melhorar a qualidade de vida na sua cidade, ao mesmo tempo que se realizam mais plenamente enquanto seres humanos.Agradecemos a disponibilidade e amabilidade com que o Professor Carlos Grácio acedeu a este nosso desafio e a lição de democracia que nos proporcionou.

PROFISSIONAL, PORQUE NÃO?


O alargamento da formação escolar básica, até à universitária, veio preencher uma lacuna grave da nossa sociedade.
Primeiro, por razões que se prendiam com a necessidade de acabar com o analfabetismo viciante que o Estado Novo impunha, e depois da Revolução do 25 de Abril de 1974, com o objectivo de formar cidadãos uniformemente, permitindo a escolaridade para todos.
Hoje, todavia, cada vez mais se ouve falar de uma geração em saldo. Ou seja, jovens que, concluída a sua formação universitária, ficam no desemprego.
Salta à vista, para quem tem acompanhado o sistema de ensino que as boas intenções na qualificação dos portugueses, não foi acompanhada de uma planeada integração no mundo laboral.
Forma-se por necessidade óbvia de estabelecimento de níveis de cidadania cada vez mais conscientes, e isso é louvável, mas têm-se esquecido a integração dos jovens na vida activa.
Hoje, felizmente, o Ensino Público começa a dar sinais de querer aproveitar o tempo perdido e surgem cursos profissionais que poderão dar resposta a sensibilidades diferentes dentro das escolas e fora dela.
As empresas necessitam de pessoal especializado que vai rareando
As universidades precisam de laboratórios cheios de massa cinzenta que inove, e crie espaços de investigação que com certeza absoluta estão adormecidos no nosso país.
Para que esse salto se dê de facto, é apenas necessário que as famílias percam de vez o preconceito, associado ao facto de que a formação profissional não confere um estatuto que permita continuar a ostentar a vaidade que tanto nos caracteriza.